CRÍTICA
A ARTE DE ANDREI MONTEIRO
As técnicas mistas criadas por Andrei Monteiro têm como fulcro imagens fotográficas colhidas por seu ortônimo, AGPP, na cidade de São Paulo. Estas imagens são transferidas para uma tela mediante jatos de tinta preta em impressoras profissionais fine art. Montada num chassis, a tela receberá, numa segunda fase, a aplicação de tintas acrílica e industrial em determinadas áreas, obtendo-se assim uma obra híbrida surgida da fotografia e pintura, juntas.
Mas esta não é o única vertente da obra deste artista. Para a realização de trabalhos de configuração diversa, utiliza também outros meios tais como tecido furado, poliéster, cabreta, bagun, lona. E seus materiais, além da tinta acrílica, incluem madeira, acrílico, metais, poliéster, PET e outros. Ele trabalha com pinceis, rolinhos, espátula, redes. Deste processo complexo surgem obras únicas ou múltiplas, de formatos pequenos, médios ou grandes, de notável impacto visual. O que mais impressiona nestas obras é o efeito de terceira dimensão.
Esta série teve início há pouco mais de 15 anos, quando o artista pesquisava suportes, superfícies transparentes, semitransparentes, translúcidas, sobreposição de imagens. Neste processo, encontrou um tecido micro-perfurado que o auxiliou sobremaneira a atingir seu objetivo de criar a ilusão ampliada da terceira dimensão. Ele pintava sobre vários suportes, colocando um sobre o outro. Na montagem, estes tecidos precisavam ficar esticados em planos com uma certa distância entre eles.
“Depois de muitas tentativas”- explica o artista - “montei um chassi de madeira vazado sem as madeiras de apoio nos cantos e no centro prendi a primeira imagem no fundo a segunda imagem fixei na parte da frente do chassi pois esta era micro perfurada para causar o efeito. Finalmente, tudo fazia sentido; tinha conseguido montar minha primeira obra com o efeito de terceira dimensão”. O resultado é sensível e surpreendente. O artista realiza anda pesquisas sobre efeito 3D em curvas sobre plataforma de PET.
Andrei Monteiro, mutatis mutandis, é um profissional na linha de Leonardo da Vinci e Abraham Palatnik. Em sua obra estão presentes engenho e arte.
Enock Sacramento
Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA.
Membro da Associação Internacional de Críticos de Arte – AICA.
OS HETERÔNIMOS DE ALEXANDRE
Quando Alexandre Guimarães Pimentel Pinto - AGPP utiliza com a mão esquerda para pintar, ele age como se fosse Andrei Monteiro. E quando ele pinta com a mão direita, a personalidade que ele assume é a de A. Ramos Pinto. Os dois pintores surgiram após um pequeno acidente que deixou AGPP impossibilitado de pintar com a mão direita.
AGPP, criador dos artistas A. Ramos Pinto e de Andrei Monteiro é, portanto, um ortônimo. E os pintores aos quais ele deu existência, cada um com sua personalidade artística própria, são seus heterônimos.
A existência de heterônimos é um acontecimento raro no terreno das artes visuais, ocorrendo com mais frequência no campo da literatura. Na língua portuguesa, Fernando Pessoa é o caso mais famoso de escritor que criou vários heterônimos, sendo os mais conhecidos Alberto Caiero, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Ele escrevia ainda com o seu próprio nome: Fernando Pessoa.
Heterônimos e pseudônimos são figuras diferentes. É o próprio Fernando Pessoa quem explica: “A obra pseudônima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterônima é do autor fora de sua pessoa; é duma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu”.
Assim, AGPP não existe como pintor, embora tenha dado vida a dois pintores. Pode ser, todavia, que algum dia ele se revele, talvez pintando com as duas mãos.
Esta exposição reúne obras, com estilos diversos, dos heterônimos de AGPP. Observe-as atentamente e decida com qual delas você fica. Ou fique com as duas.
Enock Sacramento
Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA.
Membro da Associação Internacional de Críticos de Arte – AICA.
